Gatos
O mínimo que podemos fazer
Texto originalmente postado em 22/09/2011
As pessoas ao saberem que lido com animais de rua me perguntam o que fazer ao encontrar um bicho abandonado. Sempre respondo para agirem como eu, resgate o animal, leve para o veterinário, castre, vacine, dê alimentação de qualidade e tente arrumar um bom dono. Custa caro? Sim, muito. Demanda tempo? Sim, às vezes um animal pode ser adotado quase que imediatamente, mas há cães e gatos que esperam meses, até anos, por um novo lar.
E geralmente o que as pessoas me respondem? Ah, não podem, não tem dinheiro, não tem tempo, etc.
Encontraram um animal de rua mas não podem dar uma assistência a longo prazo?
O levem para castrar. Só isso. Se castrar um bicho abandonado e colocá-lo de volta à rua é o mínimo que pode ser feito, então o faça, sem nenhum remorso ou dor na consciência.
Vamos colocar aqui o exemplo de uma gata e mostrar o quanto é perigoso um animal não-castrado vagando nas ruas.
Uma gata em seu primeiro cio, aos 6 meses de idade, pode ter até 6 filhotes.
Com 30 dias de parida ela já entra no cio novamente.
Com 6 meses os filhotes da primeira ninhada já estão sexualmente maduros.
Fizeram as contas? É MUITO GATO!
São centenas, milhares de animais para uma sociedade que não cuida direito nem dos seus, que negligencia, abandona e maltrata até mesmo aqueles que escolheram ter ao seu lado.
Quando levo um animal para ser castrado é difícil encontrar alguém para colaborar com o valor da cirurgia ou que irá se propor a castrar os seus, mas sempre tem algum ignorante para dizer que é maldade, que o bicho é um coitadinho e pergunta como tenho coragem de fazer algo assim.
A ultima vez que levei uma gata para interromper uma gravidez em estágio inicial ( faço isso sem o menor remorso também ), uma gata com no máximo 5 meses de idade ( pra piorar a situação algumas fêmeas são acometidas de CIO PRECOCE ) desnutrida, cheia de vermes e que estava sendo chutada em uma universidade aqui perto, uma pessoa ficou horrorizada, proferindo as frases acima. Geralmente tento ser educada, afinal é chato ter sua ignorância apontada publicamente, mas quem ela pensa que é para TENTAR fazer com que eu me sentisse mal?
Virei para ela e calmamente perguntei: Você vai levar para sua casa? Vai cuidar da mãe e dos filhotes, castrar todos e depois tentar uma boa adoção para todos eles? Logicamente a pessoa deu mil desculpas. Então, eu finalizei a conversa: Bom, só tenho dinheiro para cuidar bem e MUITO bem da mãe. Prefiro cuidar bem de um a tratar a todos mal e porcamente.
Se você quer fazer caridade, faça com o dinheiro em seu bolso. Mas não tente projetar suas crenças e opiniões – que não trazem beneficio algum – em cima dos outros e sem nem ao menos propor uma solução eficaz e definitiva para o problema.
Se castração e devolução de animais as ruas fosse algo tão cruel e sem utilidade, qual a razão de inúmeros países em todo o mundo terem programas de C.E.D bem sucedidos e que utilizam verbas públicas? Por que as pessoas que amam animais, que dedicam boa parte do seu tempo e dinheiro a eles iriam se envolver em projetos de captura, arriscando-se com animais ferais, apenas para serem apontados como monstros por gente que nunca levantou um dedo para algo além de tirar sujeira de seu umbigo?
Isso é ter visão macro. É saber se distanciar do inútil sentimento de pena, que não ajuda nada nem ninguém e racionalmente analisar a maneira mais eficaz e produtiva para diminuir os números do abandono e mortes por crueldade, doenças e maus-tratos. E não somente os animais de rua, mas também animais que possuem famílias, já que fugas acidentais acontecem. Sempre bato na tecla que um animal perdido é uma tristeza, mas um animal perdido e não-castrado é uma temeridade.
80% dos animais de rua foram abandonados, ou são descendentes de animal domiciliado com donos irresponsáveis, que além de deixá-lo a mercê de inúmeras doenças por não castrá-lo ainda permitiu que ele colocasse filhotes no mundo. E o mais engraçado é que quem não castra e ainda fala mal de quem é a favor da esterilização de animais é a mesma pessoa que não vê problemas em abandonar uma fêmea prenha ou separar os filhotes da mãe, colocando-o dentro de uma caixa no frio, dentro de um saco atirando-os no rio ou colocando a família inteira em um terreno abandonado. Quem é o verdadeiro monstro aí?
Castração, como ferramenta única, não irá resolver o problema do abandono, pois abandonar um animal é sinônimo de falta de caráter e compaixão e existem pessoas que simplesmente não conseguem ser decentes e abandonariam o bicho castrado ou não, de raça ou não, jovem, idoso, etc. Se a pessoa não tem dentro dela respeito pelo próximo, não importa se seja gente ou bicho, olhos e coração não irão se sensibilizar pela dor alheia.
Então, um brinde ao mínimo que podemos fazer!
Um brinde a todas as pessoas que enxergam além, que castram os animais que passam em seu caminho.
A todos os veterinários que são parceiros, confiam e colaboram com projetos de C.E.D no Brasil e no mundo.
Um brinde a todos os donos responsáveis, que castram seus animais, se preocupando genuinamente com sua saúde e o seu futuro.
Castrar é aliviar tristezas, em curto, médio e longo prazo.
As vidas que são salvas agradecem.
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