Convulsões ocorrem devido a lesões irritativas nos neurônios da região proencefálica(tálamo-cortex),constatando-se uma perda de consciência,decúbito,movimentos tônico-clônicos,enrijecimento de mandíbula,espasmos faciais e sinais autonômicos(midríase,salivação,micção).Embora não seja tão frequente como nos cães,as inúmeras possibilidades etiológicas devem ser discorridas e compreendidas para o diagnóstico em um felino com convulsão.
As principais causas de convulsão em felinos são as encefalites,principalmente as virais,tumores e lesões por encefalopatias isquêmicas.As causas tóxicas,como envenenamentos,podem ser comuns,dependendo da região e estilo de vida do animal.Outras causas que devemos incluir são as nutricionais(deficiência de tiamina),meningoencefalites não-supurativas,infecções fúngicas e protozoárias e também traumas cranianos.Causas metabólicas e a epilepsia idiopática são raras em felinos.
Como nos cães,a convulsão pode se manifestar parcialmente,como sutis mudanças de comportamento,movimentos mastigatórios e repetitivos,tremores e diminuição propioceptiva dos membros,o que sugere lesão proencefálica focal.São as chamadas convulsões parciais.Com esta apresentação já podemos descartar uma epilepsia idiopática,tóxica ou metabólica.
As anomalias encefálicas congênitas não são comuns em gatos.A hidocefalia é a mais conhecida,mas geralmente é assintomática.Uma deformidade facial e cranial pode ser observada.Anormalidades mentais,deficiências visuais,hemiparesias,podem acompanhar as convulsões.Lisencefalia e cistos dermóides podem ocorrer também,com sinais progressivos,tipicamente em gatos com menos de um ano de idade.
A encefalopatia isquêmica felina ainda é pouco compreendida.A isquemia de tecidos cerebrais pode ocorrer devido à vasoespasmos de artérias cerebrais ou por migração de larvas de helmintos(
Cutelebra).Classicamente o curso é superagudo,com sintomas unilaterais(hemiparesia,andar em círculo,perda de resposta postural).A convulsão surge como complicação,podendo aparecer meses depois do infarto cerebral.Mudanças comportamentais também são comuns.A análise do liquído cefalorraquidiano(LCR) geralmente é normal.O único meio de diagnóstico ante-mortem é por imagem cerebral,como a tumografia.
Meningoencefalite não-supurativa é uma outra causa possível de convulsão em felinos.Há sinais vestibulares,cerebelares,depressão e paresia.O curso é variável,pode agudo ou insidioso,progressivo ou regressivo.Acredita-se que infecções virais são causadoras da enfermidade.Herpesvirus e arbovirus são os suspeitos de desencadeiarem uma resposta autoimune contra as células nervosas,devido à estimulação antigênica.
O diagnóstico é feito através de análise do LCR,onde há um aumento moderado de proteínas,e por imagem cerebral.O tratamento é de suporte,com fluido e anticonvulsivantes.O uso do corticóide é controverso,em alguns casos a melhora é bem significativa,entretanto pode piorar em casos de viroses ativas.
As encefalites infecciosas formam um importante capítulo no diagnóstico diferencial de estados convulsivos em felinos.Infecções virais,como PIF e FIV,protozoários(toxoplasmose) e fungos(criptococose),podem causar infecções centrais graves.
A PIF é responsável pela maior porcentagem de encefalites infecciosas.Sintomas como "heald tilt",nistagmo,tremores intencionais,ataxia,paresia,com presença ou não de sinais sistêmicos,como febre,letargia,inapetência e sintomatologia ocular.As convulsões não ocorrem isoladamente,sempre haverá outro sintoma associado.O diagnóstico é pela anamnese(histórico,idade,estilo de vida do paciente),exame oftálmico,análise de LCR(alta concentração de proteínas).
Outras causas de encefalites infecciosas são a criptococose,FIV,toxoplasmose e raiva.A primeira geralmente é associada a descargas nasais,nódulos e ulcerações cutâneas,cegueira e alterações neurológicas.Na análise do LCR podem ser encontrados numerosos organismos fúngicos.A encefalopatia pela FIV geralmente é assintomática,podendo gerar anormalidades sutis no comportamento e quadros convulsivos.A toxoplasmose raramente se desenvolve como uma doença clínica em gatos,entretanto em alguns estados de imunosupressão pode ocorrer um quadro de pneumonia,hepatite ou pancreatite.Sinais oculares são comuns,além de febre,inapetência e miosite.O diagnóstico ante-mortem é difícil,em casos suspeitos recomenda-se iniciar o tratamento com clindamicina.
Convulsões acompanhadas de mudanças comportamentais superagudas,agressividade e medo,com progressão rápida para paralisia e morte,deve-se suspeitar de raiva felina,tomando-se todos cuidados epidemiológicos.
Os tumores encefálicos também são importantes no diagnóstico possível de convulsão em gatos.Geralmente ocasionam sinais focais progressivos(mudanças de personalidade,depressão,hemiparesias,perda parcial da visão e sensação facial).O animal é geralmente de meia-idade a idoso.O diagnóstico é principalmente por imagem.
Problemas metabólicos também devem ser considerados em felinos convulsivantes,embora não sejam comuns como nos cães.A encefalopatia hepática,deficiência de tiamina,hipoglicemia e hipocalcemia são os mais importantes.A primeira geralmente ocorre como eventos episódicos,quase sempre disparado após uma alimentação rica em proteínas.Sintomas bem evidentes são a hipersalivação e comportamentos bizarros.É um distúrbio bem comum em animais com "shunt" portossistêmico,com os primeiros sinais já no primeiro ano de vida.
Felinos com sintomatologia nervosa,consumindo dietas pobres e desbalanceadas,ou estritamente à base de peixe,são suspeitos de deficiência de tiamina.A ventroflexão do pescoço e opistótono são marcantes.
A hipoglicemia sintomática é incomum em gatos,só é vista em animais diabéticos tratados com superdosagem de insulina,ou com tumores secretórios de insulina ou ainda em sepsis.A hipocalcemia também é rara.Fasciculações musculares,tremores e tetania são evidenciados.Gatos bitireoidectomizados podem entrar em quadro hipocalcêmico no pós-cirúrgico.
Os felinos,por seu paladar seletivo,possuem uma menor facilidade em ingerir tóxicos,diminuindo a chance de envenenamento.Entretanto,raticidas e produtos tópicos utilizados para o controle de ectoparasitos podem causar intoxicações.Os sintomas são variáveis,dependendo da dose e da substância ingerida.Geralmente as convulsões são graves e de difícil controle,associadas a sinais centrais(depressão,hiperexcitabilidade,paresia),autonômicos(salivação,diarréia) e musculares(tremores e fasciculações).
Outra emergência médica,que pode causar convulsão é o trauma encefálico,como a concussão e contusão.Sinais de hemorragia e choque mecânico são percebidos,como sangramento nos olhos,nariz e ouvidos.Uma epilepsia pode ser sequela de um trauma grave.
A epilepsia idiopática é rara e pobremente documentada em felinos.Seu diagnóstico é por exclusão.Geralmente inicia-se em animais jovens(até 5 anos) e as crises convulsivas começam discretamente,mas aumentam a frequência subitamente.Não há anormalidades nervosas ou oculares.Então um exame neurológico,ocular e do LCR é fundamental.
O principal fármaco utilizado no tratamento de estados convulsivos em felinos é ainda o fenobarbital.A gabapentina está demostrando bons resultados em alguns quadros resistentes.O brometo de potássio é CONTRA-INDICADO em gatos,podendo gerar sérios problemas respiratórios e morte.
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