Gatos
A Borboleta e o Gato
Uma casa tinha um jardim. Não era uma casa comum, era grande, cor de capuccino e cheia de avanços e reentrâncias, como se a casa fosse uma lagarta dourada que rebolasse numa cama de veludo verde. O jardim era este veludo verde, salpicado de canteiros de flores e com um jasmineiro crescendo sobre uma treliça de madeira.
Na casa morava um gato angorá, sinuoso como a sua habitação, peludo e negro, brilhante como a prata recém-lustrada. Quando ele andava, seu rabo era o empinado estandarte a noite, e quem o visse tinha imediatamente vontade de enfiar os dedos em seus pêlos e senti-los afundar e sumir naquela maciez sedosa. Era, como todos os gatos, solene e eternamente consciente de sua dignidade, mas capaz de explodir no movimento e na brincadeira que prometia o brilho maroto do seu olhar.
Havia também uma borboleta que habitava as touceiras de flores do jardim. Ela conhecia bem este jardim, e voava por todo ele visitando cada pequeno botão. Era uma borboleta que amava cores, e frequentemente pousava no topo da treliça do jasmineiro e voltava seus olhos muito abertos para o jardim, absorvendo o verde claro e vivo das folhas novas, o rosa-suave do miolo do jasmim branco, o amarelo vivo dos narcisos, o vermelho intenso das gérberas, o verde escuro e denso das cercas-vivas.
Ela conhecia todas as nuances de todas as cores, mas nunca havia encontrado algo negro. Nem mesmo à noite, pois ela então fechava os olhos e sonhava com o sol. Até que, um dia, o gato saiu de casa e deitou-se no gramado para seu banho de sol. A borboleta, fascinada por aquela criatura tão diferente, aproximou-se voando para investigar.
“Ele é aveludado como as folhas da violeta”, pensou ela, “e brilhante como os reflexos do sol na gota d’água, mas parece feito de sombra… como pode ser, uma sombra que reflete luz?” Assombrada, dirigiu-se àquela prodigio criatura:
- Você é feito de luz ou de sombra?
- De ambos — respondeu o gato, igualmente assombrado — e de que é feita você, que me parece o céu visto através de uma bolha de sabão?
- Não tenho certeza, mas acho que sou feita de flores, de céu e de sonho.
- Eu perdi contato com meus sonhos — comentou o gato, chicoteando o rabo, estressado. Será que você veio para me mostrar onde eles estão?
A borboleta fitou o gato um longo instante em silêncio. Lentamente, cresceu uma vontade de pertencer àquela criatura de sombra e luz, negra como a noite e brilhante como um espelho d’água. Suavemente, pousou sobre o nariz do gato e bateu com suas asas em seus bigodes.
O gato fechou os olhos e ronronou, o que fez a borboleta estremecer por todo o corpo, e jogar sobre o rosto do gato o azul das suas asas. Eles assim ficaram por um tempo, e quando finalmente a borboleta levantou vôo de volta à sua casa no topo do jasmineiro, ela era céu azul de um lado e noite estrelada do outro, e o gato tinha o rosto de prata azulada, e seus olhos negros tinham ficado azuis.
Ambos partiram daquele encontro em busca de seus sonhos, renovados.
(autor desconhecido)
Fiz este post baseado em uma surpresa hoje na hora do almoço. Tão logo cheguei ao restaurante uma linda borboleta pousou em meu vestido e me acompanhou o almoço todo, seguiu-me pela rua coladinha no vestido e me acompanhou até o escritório, no 10o. andar de um prédio na Av. Paulista. Ao sentar-me ela voou e eu, com medo que ela morresse dentro do escritório, calmamente resgatei-a do lustre e coloquei-a pra voar pela janela da sala. Nunca algo assim tinha me acontecido e fiquei maravilhada. Abaixo vem a foto da borboleta que me presenteou com sua visita intrigante
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